MANIFESTO
Não à desnacionalização da Educação Superior Brasileira

O Banco Mundial e grandes operadoras do capital, em parceria com
empresários do ensino brasileiro, provocam o aprofundamento do
processo de desnacionalização da educação superior. Está em curso
grandes negociatas para a venda ao capital internacional de várias
instituições de educação superior no Brasil. Enfrentar esta realidade
exige clareza da trajetória da educação brasileira e das forças que se
encontram em disputa.

As lutas históricas, do início da República até os nossos dias, apontam
que as políticas educacionais estão sempre ligadas a projetos de Nação.
Esses projetos revelam-se, grosso modo, por duas grandes tendências:
uma, de ampliação democrática e de desenvolvimento nacional; outra,
de restrições democráticas e de entrelaçamento a interesses
internacionais, que visam manter a dependência econômica, política e
ideológica do País.

É inegável, portanto, o papel estratégico que a educação desempenha
em qualquer projeto de desenvolvimento nacional. A educação superior
e, em particular, a universidade pública, é responsável pela pesquisa,
pela produção de conhecimento, de ciência e de tecnologia; é formadora
de cientistas e de trabalhadores altamente qualificados.

Assim, é fundamental que o Estado brasileiro implemente políticas de
construção de uma educação pública, democrática e de qualidade
social, em todos os níveis, e a constituição de um marco regulatório que
enfrente a mercantilização.

Após a década de 1990, sob o argumento da liberdade conquistada na
Constituição, interesses empresariais perseguiram a liberalização total
da educação privada e a não interferência do Estado em seus rumos, e a
concepção de que a educação, como serviço não exclusivo do Estado, é
uma mercadoria como outra qualquer e deve ser regulada pela mão
invisível do mercado.

Essas forças, além de buscar incluir a educação brasileira como um
setor de serviços na Organização Mundial de Comércio (OMC), procuram
remover obstáculos jurídicos para favorecer o estabelecimento de
instituições educacionais estrangeiras.

Com a implementação da política neoliberal, o Brasil já teve parte
significativa de sua base econômica estratégica passada para as mãos
das grandes corporações transnacionais. Concomitantemente, a
abertura do mercado interno, no mínimo, estagnou o nosso crescimento
industrial, provocando a extinção de postos de trabalho e o crescimento
do exército de reserva de mão-de-obra. Por outro lado, o Estado
brasileiro perdeu força na gestão dos serviços públicos de qualidade.
Não é preciso enumerar as conseqüências sociais advindas desse
cenário.

Agora, o capital  internacional está comprando instituições de educação
superior privadas no Brasil, justamente por ser um setor que se
expandiu em níveis nunca antes registrados e que vem auferindo
enormes lucros.

Segundo levantamento realizado pelo Relatório Valor 1.000 Maiores
Empresas
, do jornal Valor Econômico, dez instituições do ensino
superior privado estão entre as mil maiores no ano de 2005. Entre as dez
maiores, está a Anhembi Morumbi, que, diga-se, foi adquirida na sua
totalidade por um grupo internacional da educação. Recentemente, a
imprensa noticiou investimos do Banco Mundial na ordem de US$ 12
milhões para financiar a compra de outra instituição superior de ensino
privado no interior do estado de São Paulo.

A intensificação dessas ações do capital internacional não acontecem
por acaso. Tramita no Congresso Nacional o projeto de reforma da
educação superior no qual limita-se a 30%, no máximo, a participação do
capital estrangeiro nas instituições de educação superior no Brasil. Por
essa razão, o capital tem muita pressa, pois a reforma impedirá a
compra total do capital votante das instituições.

Diante dessa investida do capital internacional, não podemos esperar a
tramitação da reforma da educação superior no Congresso. É urgente
que o Governo tome medidas imediatas que impeçam a venda das
instituições de educação superior ao capital estrangeiro.

É inaceitável a ingerência do capital internacional nos assuntos
educacionais de nosso País. Nós não aceitaremos que a educação se
transforme em uma mercadoria a ser negociada na OMC. Nós não nos
renderemos à mercantilização e à desnacionalização da educação
brasileira.

Conceber a educação a partir de uma estrita lógica de mercado
compromete os destinos das novas e futuras gerações. O que está em
jogo é o futuro do País que necessita de um sistema de educação
superior comprometido com o desenvolvimento democrático e
soberano.

Diante desta ameaça à nossa soberania, a CONTEE conclama as
entidades de educação e a sociedade brasileira a se manifestarem pela
imediata ação do Governo para barrar tais negociatas. Convocamos as
organizações democráticas e populares, as entidades educacionais, as
entidades sindicais, a firmarem esse manifesto de denúncia, repúdio e
convite à luta contra todas e quaisquer ingerências estrangeiras no
campo da educação no País.

Este documento é uma iniciativa da CONTEE e tem apoio e assinatura
das entidades de âmbito nacional abaixo relacionadas e será entregue
ao Ministro da Educação e à Presidência da República.

                                                                  Brasília, 21 de novembro de 2006

CONTEE - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM
ESTABELECIMENTOS DE ENSINO
CNTE - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM
EDUCAÇÃO
UNE - UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES
UBES - UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS
CUT - CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES