Formação política e sindical na América

 

Por Augusto César Petta*

No período de 7 a 10 de novembro, participei em Havana-Cuba, juntamente com o Secretário-Adjunto de Relações Internacionais da CTB João Batista Lemos, de uma reunião de Centrais Sindicais componentes do Encontro Sindical Nossa América - Esna e de Centros de Formação e Investigação, com o objetivo de definir um programa de formação e de investigação.
Com relação à formação, tal programa destina-se a dirigentes das Centrais Sindicais e dirigentes das entidades filiadas às Centrais dos vários países que se vinculam ao Esna. A reunião contou com a participação da PIT-CNT do Uruguai, da CTA da Argentina, da CTC de Cuba, da CST da Venezuela, da CTB do Brasil, da FISYP (Fundação de Investigações Sociais e Políticas) da Argentina e do CES do Brasil.

Na resolução do III Encontro Sindical Nossa América, realizado em Caracas, ficou expresso que se trata ”de estudar as mudanças na estrutura de classe, especialmente entre os trabalhadores, sua história e prática de luta e de organização e “resulta necessário estudar as formas de gestão na diversidade da realidade regional, para apreender, desde as práticas sociais e tentar sistematizar teoricamente para uma efetiva divulgação da potência do poder obreiro e popular.”

A reunião a que me refiro acima foi realizada para iniciar o processo de formação e investigação a que o III Encontro se refere. Contando com a efetiva participação de professoras da Escola de Formação de Quadros Sindicais “Lazaro Pena” – local onde a reunião foi realizada - o programa de formação e investigação foi elaborado.

Entre as atividades planejadas, está a realização de cursos internacionais de formação, reunindo dirigentes sindicais de vários países. O primeiro deles, que será de formação de formadores, deverá ser realizado em Havana, em março de 2011. Nas várias regiões da América, outros quatro cursos serão realizados, nos meses de abril e maio de 2011, sendo que um destes deverá ocorrer no Brasil, reunindo dirigentes sindicais da Argentina, do Uruguai, do Paraguai, do Chile e do Brasil.

No que se refere ao processo de investigação, a principal resolução é a de que, inicialmente, seja constituída uma equipe continental, composta por intelectuais dos vários países da América que estejam dispostos a colaborar na realização de pesquisas que se refiram a temas de interesse da classe trabalhadora. Provavelmente, um dos temas fundamentais a serem investigados é o novo perfil da classe trabalhadora, em função das grandes transformações que estão ocorrendo no mundo do trabalho. Um estudo como este tem um valor em si para aumentar nossos conhecimentos, mas tem, sobretudo uma consequência prática para a reorientação das estratégias e táticas do movimento sindical.

Pude constatar visivelmente, nessa viagem a Havana, a importância que os cubanos atribuem à formação, quer seja a formação escolar que consideram fundamental para a vida das crianças e jovens, quer seja a formação política e sindical. Os cubanos são estimulados a estudar, a ter maiores conhecimentos sobre a realidade. Têm nos temas políticos, um assunto do seu cotidiano. Falam com facilidade de temas políticos importantes. Ao ser apresentado como brasileiro a vários cubanos, desde dirigentes políticos e sindicais até trabalhadores sem nenhum cargo político ou sindical, invariavelmente ouvi espressões como “país da Dilma e do Lula”, “que bom que Dilma venceu!”, “Lula é amigo dos cubanos”. E em relação a Cuba, as referências são a defesa da Revolução, as críticas ferozes ao imperialismo estadunidense, o reconhecimento da liderança de Fidel e de Raul.

* Professor, sociólogo, Coordenador Técnico do Centro de Estudos Sindicais (CES), ex-Presidente da CONTEE.

Fonte: Vermelho