Faculdade por conta do esporte

Embora ainda pequeno, cresce número de instituições que dão bolsas a atletas e incentivam esportes universitários
O presidente da Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU), Luciano Cabral, diz que o número de bolsas cresceu por causa de uma mudança nos regulamentos de campeonatos feita em 2005. A entidade passou a exigir que todos os atletas dos times universitários fossem alunos regularmente matriculados nas instituições que representam. Isso reduziu o investimento em patrocínios de esportistas sem ligação com a universidade e tornou as competições mais acirradas. "Desde então, o total de faculdades que participam de pelo menos uma competição durante o ano passou de algumas dezenas para 800, embora as bolsas ainda sejam mais raras", afirma. Ao todo, o País tem 2.300 instituições de ensino superior.

“Conforme os campeonatos ganharam importância, mais alunos se interessaram e, ao mesmo tempo, outras faculdades perceberam como o esporte era positivo para a marca e também formaram suas equipes”, explica Cabral. Também contribui a aproximação da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no Brasil, que colocarão formadores de atletas em evidência.

Em São Paulo, a instituição com mais tradição de investimento em esporte é a Fundação Mackenzie, que tem times desde os anos 60. De acordo Danilo Dourado, do Departamento de Esportes, dos 18 mil estudantes, 2 mil treinam pela instituição e, desses, metade recebe bolsas que vão de 25% a 100% da mensalidade.

O time de futebol feminino, por exemplo, além de estudar de graça, recebe uniforme, chuteiras e local para treinar todos os sábados. “Foram eles que ofereceram a bolsa”, conta uma das jogadoras, Amanda Alves do Nascimento, 19 anos, que está no 4º semestre de Administração.

Moradora do Limoeiro, na zona leste de São Paulo, ela conta que começou a se interessar por futebol ainda criança quando assistia o pai nos jogos do time do bairro aos domingos. Aos 18, foi jogar no Nacional, quando recebeu o convite para cursar a faculdade. Hoje, além de treinar, faz um estágio remunerado na área do curso que frenquenta. “Por enquanto, meu trabalho não é ligado ao esporte, mas escolhi Administração porque é algo que posso aplicar no futebol, quero continuar nessa área quando parar de jogar”, diz.

Já a judoca Camila Satie Zyman Minakawa, de 20 anos, também bolsista do Mackenzie, escolheu Psicologia para ter uma opção de carreira além do esporte. “Sempre gostei de ouvir as pessoas e psicologia é algo que posso usar nas disputas e fora delas”, conta a integrante da seleção brasileira, que nos últimos três anos subiu ao pódio em campeonatos na Europa, Estados Unidos e Venezuela.

Ambiente esportivo nos estudos

A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), no Rio Grande do Sul, tem 70 bolsistas por conta do esporte. A maior parte deles, atletas que já se destacavam antes da universidade e agora treinam na instituição. O patinador artístico Marcel Stürmer, medalhista em competições mundiais, está entre eles. "Estudei nos Estados Unidos e tive bolsa desde o Ensino Médio, então procurei uma instituição que me apoiasse também na faculdade", conta.

Ele cursa Marketing para aplicar na própria carreira e, sempre que não está em aulas vai para a pista treinar. "Lido com patrocinadores e conhecer na teoria o que já fazia na prática é muito importante."

O gerente de Esportes da Ulbra, Jober Teixeira Júnior, diz que, a partir deste ano, pretende fazer também o contrário, descobrir talentos entre os já matriculados. “Assim como acrescentamos conhecimentos específicos para esportistas que fazem faculdade, queremos levar o esporte para a vida de profissionais de outras carreiras”, comentou. Neste semestre, 18 bolsas devem ser distribuídas entre estudantes já matriculados. “Estamos recebendo inscrições de interessados nas primeiras semanas de aula.”

Modelo americano

Nos Estados Unidos, oferecer bolsas para atletas é rotina na maioria das instituições. A Liga Nacional da Atléticas Universitárias (NCAA) organiza campeonatos em quase todos os esportes com tantos integrantes que, em geral, são necessárias três subdivisões. As escolas de ensino médio são visitadas por olheiros em busca dos melhores atletas.

O especialista de programas especiais da STB, Luciano Diderot, conta que mesmo estudantes estrangeiros que se dedicam a um esporte costumam receber cerca de seis ofertas de bolsas parciais em apresentações específicas no País. “O esporte universitário lá é tido como o caminho para o profissional. Quando uma pessoa se candidata à universidade, além de currículo ela diz que modalidade pratica”, explica.

Onde buscar informação sobre bolsa em cada estado:

Em cada Estado há uma federação universitária com informações sobre instituições locais que possuem times e bolsas. No site da CBDU estão reunidos endereços e contatos atualizados de cada uma.

Fonte: IG